quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Apenas uma passagem.

Oi amigas, amigos, espero que todos estejam bem.
Gostaria de pedir a compreensão de vocês quanto aos meus escritos, pois por mais que eu os corrija, quando vou publicá-los, acaba sempre passando algo... entendam, colaborem, mas não façam críticas que não tenham a intenção de ajudar.
Hoje o assunto não é tão feminino, embora já tenha algo a ser dito, porém prefiro comentar e compartilhar um outro sentimento. Faz parte de meu ser falar sobre tudo, me meter em quase tudo e sempre ter uma opinião sobre tudo...rs Na maioria das vezes não estou certa, mesmo assim luto pelo que penso e mudo quando vencida por argumentos inteligentes. rsrs
Bom, vamos ao que interessa...
essa semana,  precisamente no domingo, minha avó Ruth mudou-se de nosso ambiente cheio de problemas e se foi para um lugar, que só Deus sabe onde, que lhe possibilitará sentir a presença do bem e do verdadeiro amor.
Pois é, vovó morreu. Sempre fiz piadas quanto a ela estar viva com 93 anos. Passagem comprada, mas sem data marcada... prazo de validade vencido... etc etc. Quem me conhece e acompanhou o tempo que ela morou em minha casa sabe sobre isso e muito mais. Não sei quantos me julgaram covarde ou debochada quando assim eu falava, no entanto, quem não só convive comigo, mas me conhece bem, sabia que demonstrava na brincadeira um desejo movido pela piedade. É, eu tinha muita pena dela por estar ainda viva aos 93 anos, considerando todas as sua dificuldades, mas principalmente, por não haver nela nenhum sinal de vida. Creio que para nos sentirmos vivos, precisamos ter alegria, desejo... algo assim, mesmo que seja aos 93 anos.  Acredito que se não há esse sinal, não há vida mais no corpo.
Assim eu via minha avó!!!
Desde o ano passado me preparo para isso, em meu intimo acreditava que ela não viveria muito mais. E assim o dia chegou, chorei em alguns momentos, mas senti que não era um choro de sofrimento por nossa separação. Nós nunca fomos muito unidas sentimentalmente, certamente por vontade dela e não minha. Além disso, tenho tido cuidado com essas questões da morte, pois já vivi uma dor quase insuportável pela perda e não mais desejo reviver tais sentimentos, principalmente por que já entendi que a morte faz parte da vida.
Durante o domingo e a segunda dia de sepultá-la pensei muito a respeito dos meus sentimentos e sobre todo o significado daquela perda para mim. Minha avó me criou, foi minha mãe, durante toda a minha vida pensava em como seria perdê-la e era tudo bem diferente do que ocorreu na realidade.
Voltando um pouco aos anos, percebi que sempre busquei nela mais do que ela era capaz de me doar, nunca entendi porque ela tinha tão pouco a me dar enquanto menina, jovem e adulta. Por outro lado, sei que ela deu tudo que tinha, foi avó, foi mãe, foi amiga do jeito dela... ela teve muitos papeis em minha vida e na vida de seus filhos e netos. Cada um terá uma lembrança diferente, considerando cada momento vivido e compartilhado em sua cia. Boas lembranças e outras não não tão boas.
Não quero aqui expor seus defeitos, mas sim valorizar todo o caminho percorrido por ela. somos todos frutos do passado, de nossa criação etc etc e ontem no enterro, por uma das coisas mais estranhas, que eu não esperava de modo algum, acabou por ser eu a pessoa, dos mais chegados, a orar e falar por ela e por todos nós. Só naquele momento percebi que não cabia mais nenhum tipo de julgamento, quanto as atitudes de todos nós familiares em relação aos cuidados com ela e muito menos em relação aos cuidados dela com cada um de nós especificamente.
Não sei quais palavras  usei, mas recordo de ter lembrado a todos que ela nos deu tudo que foi capaz. Lembro que estávamos todos de mãos dadas e que eu olhei para cada  filho e neto que estava em meu ângulo de visão e pensei em cada um que se encontrava atrás de mim e assim falei o que me veio a mente. Porém, a noite quando fui dormir pensei nesse momento e em cada um de nós e lamentei não ter dito algo muito importante. Ao repensar em tudo que havia ocorrido e lembrando de cada um  ali postado a frente de seu corpo, conclui que apesar de seus erros e defeitos, todos nós que estávamos ali reunidos nos tornamos pessoas de bem. Pessoas que de alguma forma deu certo em vários  aspectos de suas vidas. Os erros e os defeitos de minha avó que até uns dias eram gritantes e nos incomodavam, não era mais o que tinha valor.
Assim sendo, lamento que tenha faltado em minhas palavras um OBRIGADA! "Obrigada vó, pois tudo deu certo na sua receita. Você usou todos os ingredientes possíveis ao nos criar, ao nos orientar e ao estar presente em nossas vidas. Somos hoje resultado do seu amor, de sua dedicação, paciência e empenho pra que nos tornássemos pessoas de fé e preparadas para a vida. Vá minha vó, o céu com certeza te espera, pois você foi além de sua missão e capacidade, sua vida está registrada em cada um de nós e no que nos tornamos, pois quem seríamos se não fosse você?"
Aqui me despeço de minha querida avó, na certeza de que ela reiniciará sua jornada acompanhada da bondade divina. Fique em paz!




"Tudo é mutável, tudo aparece e desaparece; só pode haver a bem-aventurada paz quando se puder escapar da agonia da vida e da morte."Sakyamuni









2 comentários:

Rachel Martins disse...

Eu estava exatamente pensando nisso ontem. Remexendo nas coisas dela, achei várias fotos de muitos momentos que eu já havia esquecido ou sequer lembrava que havia acontecido. Fiquei triste porque nesses últimos anos toda a agonia que ela sofreu foram as últimas lembranças que tivemos dela, como se isso apagasse todos os outros momentos, muitos deles alegres e felizes, que passamos com ela. Entre as coisinhas dela achei aquele caderno de poesia que nem eu lembrava que eu havia feito, e fotos nas quais ela me abraçava e eu via meu rosto sorrindo, feliz, e sabia que ela me amava, como amava todos do jeito dela, do jeito que ela pôde. Foi triste pra mim saber que eu havia me tornado uma julgadora e tinha esquecido todo o resto de bom que aconteceu. Acho que nunca podemos esquecer isso...no momento em que a pessoa ali já está sem vida e não quer mais viver, por mais sacrificante que isso seja, temos que nos esforçar por lembrar que todas as coisas boas nunca podem ser suprimidas pelo pouco tempo ruim. E eu senti muito por me lembrar disso somente depois que ela se foi.

Leticia Castro disse...

Acho tão bom essas reflexões,as vezes,o nosso cotidiano e as circunstâncias da vida nos tornam pessoas,"julgadoras",quase imunes aos sentimentos.Existem pessoas,que assumem esse papel simplesmente como forma de sobrevivência,julgando e só julgando, quase não corremos o risco de sermos julgados.Já observou isso?? Somos tão eloquentes nas colocações, que não damos oportunidade da outra parte o direito de defesa.Mas, isso tudo é blá,blá,e parágrafo introdutório para apenas te dizer;que você é um ser humano incrível,mesmo com todos os defeitos, aliás suas qualidades camuflam pequenas falhas humanas.
Amiga,ainda bem que estais viva para refletir, sentir e corrigir possíveis erros do passado.Lindo ver tamanha admiração! Viva e seja muito feliz,na medida do possível,é claro.Letícia Castro