terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Relacionamentos: Tênis X Frescobol

Bom, eu poderia falar pra caramba, mais não é minha intenção nessa postagem, o texto já fala por si só. Espero que vocês gostem... quem conhece terá a oportunidade de relembrar e quem não, o de conhecer.
O texto é pura verdade e poesia, Rubem Alves é um grande escritor, quase um sábio e um entendedor da natureza humana.
Esse texto já estava em minha a mente já algum tempo, a vontade de conhecê-lo e depois a de  compartilhar veio de um papo entre meninas...rsrs E logo depois que li, percebi e senti a sensibilidade do que é dito no texto entendi que minha solteirice e a de milhões de pessoas, assim como o "descasamento" de um monte rs, se deve ao fato de ainda não sabermos jogar frescobol!! rsrs
Boa leitura, se deliciem com cada pedacinho da prosa rs...

  “O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir a sua cortada - palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo. Termina sempre com alegria de um e a tristeza de outro.
O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra - pois o que se deseja é que ninguém erre. O erro de um, no frescobol, é como ejaculação precoce: um acidente lamentável que não deveria ter acontecido, pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ir e vir... E o que errou pede desculpas; e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...
A bola: são as nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras. Conversar é ficar batendo sonho pra lá, sonho pra cá...
Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada.
Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão... O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre perde.
Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração. O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres. Bola vai, bola vem - cresce o amor...  Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim."


Desejo que tenham gostado da escolha do texto e, que também, eu tenha coseguido ofertar a possibilidade da reflexão. Desejos que todos consigam bater suas bolinhas...rs
Abraços

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